Baggio Digital relembra, neste sábado,
homenagem feita à ativista Amena Mayall
pela Folha dos Lagos em 10 de março de 2007.
Vale também o registro da chamada de capa, que
vem logo a seguir.
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O papel da imprensa não se resume em contar a história do nosso tempo. Não. É dever dela, muito especificamente, preservar valores, resgatar tradições, costumes e valores humanos que por aqui passaram e que deixaram extraordinárias contribuições. Mais do que nunca em seus 17 anos, a Folha, a partir de agora, envereda por enobrecer ainda mais a sua missão. E a primeira matéria de uma série que vem por ai não poderia ter outro titulo:
Amena Saudades Mayall
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Tomás Baggio
Quando chegou à Região dos Lagos em 1975, à procura qualidade de vida para a família, a carioca Amena Mayall talvez não pudesse imaginar o que, mais tarde, iria simbolizar sua rápida passagem por aqui. Quase 21 anos após o trágico acidente que lhe tirou a vida, Amena é uma unanimidade entre os que conhecem a história da mulher que despertou, na região, a importância da cultura local e do meio ambiente. Militante, ativista, professora e mãe, Amena foi especial. Quando morreu, levada pelas águas da Praia Brava, em Cabo Frio, tornou-se um mito. E quem a conheceu tem por ela o maior sentimento de brasilidade: a saudade.
Foi a primeira pessoa com a proposta de fazer um levantamento da rica cultura popular das cidades da Região dos Lagos. Segundo a professora e amiga Anita Mureb, isso chamou a atenção dos que viviam aqui.
- Ela e Márcio Werneck foram os responsáveis por uma mudança na mentalidade das pessoas da nossa região. Eles vieram do Rio com muita bagagem. Logo formamos um grupo de seguidores - conta Anita.
Assim que chegou, Amena juntou-se a Werneck com ideais parecidos. Ele era secretário de Turismo no primeiro governo de José Bonifácio, e a chamou para chefiar o serviço de Atividades Culturais da secretaria. Foi nesse período, em fins da década de 70, que ela idealizou e criou o Centro Cultural Manoel Camargo, em Arraial do Cabo (na época a cidade pertencia a Cabo Frio). O centro tornou-se a segunda casa de cada uma das pessoas daquele grupo. Lá, realizavam projetos culturais, como o Festival Marearte, e folclóricos, como a Folia de Reis, além de colecionarem peças artesanais que, hoje, fazem parte do acervo definitivo do Centro Cultural, na sala que tem o nome de Arnena Mayall.
Assim que chegou, Amena juntou-se a Werneck com ideais parecidos. Ele era secretário de Turismo no primeiro governo de José Bonifácio, e a chamou para chefiar o serviço de Atividades Culturais da secretaria. Foi nesse período, em fins da década de 70, que ela idealizou e criou o Centro Cultural Manoel Camargo, em Arraial do Cabo (na época a cidade pertencia a Cabo Frio). O centro tornou-se a segunda casa de cada uma das pessoas daquele grupo. Lá, realizavam projetos culturais, como o Festival Marearte, e folclóricos, como a Folia de Reis, além de colecionarem peças artesanais que, hoje, fazem parte do acervo definitivo do Centro Cultural, na sala que tem o nome de Arnena Mayall.
A mulher que se apaixonou pelos contos e causos populares da nossa região foi, na verdade, uma agitadora cultural, descobrindo e catalogando artistas pela região, e deu grande contribuição ao incentivar o trabalho das rendeiras de Arraial e Cabo Frio. Após anos de pesquisas, escreveu contos típicos. O único publicado se chama "Itaca", e mostra a conversa de uma avó rendeira com sua neta em Arraial do Cabo.
A luta politica
Os seguidores estiveram com Amena até o fim. Não apenas nas atividades culturais, onde se divertiam sem saber, ao certo, a importância do que estavam fazendo. Mas também nas atividades políticas. Este grupo comandou a Associação de Meio Ambiente da Região da Lagoa de Araruama (Amarla), e liderou a criação do Parque das Dunas, em Cabo Frio, onde, na época, um grupo de empresários tentava construir um empreendimento imobiliário.
Conseguiu, através de ação popular, o embargo da Avenida Litorânea, que ligaria a Praia do Forte, em Cabo Frio, até a entrada de Arraial do Cabo, beirando a orla e destruindo parte da vegetação. O engajamento de Amena confundia-se com a própria personalidade.
O ativismo já fazia parte da vida dela muitos anos antes de chegar à Região dos Lagos, na luta contra a ditadura militar, que a prendeu e a torturou, no Rio de Janeiro. Em 20 de março de 1972, foi levada à cadeia acusada de reorganizar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Conseguiu, através de ação popular, o embargo da Avenida Litorânea, que ligaria a Praia do Forte, em Cabo Frio, até a entrada de Arraial do Cabo, beirando a orla e destruindo parte da vegetação. O engajamento de Amena confundia-se com a própria personalidade.
O ativismo já fazia parte da vida dela muitos anos antes de chegar à Região dos Lagos, na luta contra a ditadura militar, que a prendeu e a torturou, no Rio de Janeiro. Em 20 de março de 1972, foi levada à cadeia acusada de reorganizar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
"Fui levada por vários homens armados com metralhadoras, que me conduziam encapuzada (...) Sofri maus tratos na dependência policial", disse ela, em depoimento no dia 5 de outubro do mesmo ano, quando teve a prisão relaxada pelo juiz da 3ª. auditoria do Exército.
A luta política, que continuou na Região dos Lagos através da defesa do meio ambiente, deu envergadura política à líder. Em 1982, Amena Mayall candidatou-se a prefeita de Cabo Frio pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com o lema "progresso sem poluição". Ela teve 467 votos e ficou em nono lugar. Nesta eleição, Alair Corrêa tornou-se prefeito de Cabo Frio pela primeira vez.
A história
Amena Mayall nasceu em 21 de setembro de 1943, nas Laranjeiras, Rio de Janeiro. Formou-se em Comunicações e Filosofia na Universidade Santa Úrsula, e lecionou Filosofia na Fundação Educacional da Região dos Lagos (Ferlagos). Sua vida foi interrompida drasticamente aos 43 anos, enquanto passeava pela Praia Brava, em Cabo Frio. Foi arrastada pelas ondas do mar e se afogou. O acidente do dia 5 de abril de 1986 trouxe comoção e tristeza para toda a região. Ela deixou cinco filhos; Pedro, hoje com 41 anos; Paulo, com 39 anos, Moana, 31; Daniel, 30 e Mateus, de 28. Amena deixou ainda, entre nós, o exemplo de uma vida voltada para as lutas políticas, ambientais e artísticas. E esse exemplo não deve ser esquecido.
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Depoimentos:
“Ela tinha uma cabeça diferente. Essas coisas que as pessoas pensam hoje, sobre ecologia, ela já pensava na época” – Otime Cardoso dos Santos (Timinho) – ex-prefeito de Cabo Frio.
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“Amena despertou a Região dos Lagos para as questões do meio ambiente e da cultura popular. Foi uma pessoa especial, com uma história interessante e muita sensibilidade no coração. A saudade de Amena é muito forte” – Anita Mureb: professora e amiga.
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“Minha mãe estava atenta a questões como a cultura local e o meio ambiente, já (na época) afetados pela globalização econômica e cultural e pela acelerada urbanização das cidades pequenas. Exerceu uma espécie de mecenato, pois utilizava de seus próprios recursos para financiar a produção de cada artista” – Moana Mayall: filha.
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“Eu e Márcio admirávamos muito o trabalho de Amena Mayall. A participação dela na cultura cabofriense é muito grande” – Penha Werneck; viúva do historiador Márcio Werneck, ex-secretário de Turismo de Cabo Frio.
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“Foi a mais importante contribuição que a nossa região já recebeu na área cultural. Ela ajudou a atividade artesanal, que antes era isolada, a se transformar numa área valorizada por todos” – José Bonifácio; ex-prefeito de Cabo Frio.
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“Uma lutadora cultural. Ela transformou os artesãos em personalidades artísticas” – Antônio Carlos Trindade; secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio de Cabo Frio.
* Dados como idade e cargo dos entrevistados referem-se à época da publicação.
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Um comentário:
stsnispuNitinha te amo sempre mesmo de longe.
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