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A crise dos royalties do petróleo acelera a necessidade de discussão sobre o futuro econômico da Região dos Lagos. O dinheiro proveniente das perfurações de poços de petróleo nos nossos mares, que deveria servir como uma compensação ao meio ambiente e, no início, mostrava-se como uma grande oportunidade de melhora na infraestrutura das nossas cidades, acabou se tornando um vício e trouxe enormes problemas para as administrações públicas municipais.
Utilizando essa verba para contratar funcionários, nossos governantes reafirmaram a condição das prefeituras de cabide de empregos e comprometeram para o futuro um dinheiro que não estava certo de chegar. Com a crise econômica mundial, que derrubou o preço do barril de 150 dólares para 40 dólares (ontem, a cotação girava em torno de 47 dólares), a verba caiu vertiginosamente e, com isso, a máquina pública terá que ser esvaziada. E demissões, como se sabe, causam enorme desgaste político.
Entre as duas cidades da região que mais recebem o dinheiro dos royalties – Armação dos Búzios e Cabo Frio – a segunda certamente fica em situação mais complicada. Em Búzios, o ex-prefeito Toninho Branco (PMDB) inchou a máquina, mas, com grande rejeição popular, tomou uma lavada de Mirinho Braga (PDT), que já chegou anunciando austeridade e enxugamento do quadro de funcionários. Como já havia dito o mesmo durante a campanha, seu desgaste é mínimo ao realizar as demissões já previstas. Em Cabo Frio, no entanto, com a reeleição do prefeito Marquinho Mendes (PSDB), quem está fora quer entrar e quem está dentro não quer sair de jeito nenhum, uma vez que todos atuaram firme na campanha com promessas de empregos e benefícios. E como não será possível escapar do desgaste político, o mais inteligente seria deixá-lo vir agora, período distante de qualquer pleito eleitoral. O adiamento das demissões mantém as contas desequilibradas e prejudica o pagamento aos fornecedores da prefeitura, provocando uma reação em cadeia que afeta a circulação de dinheiro em toda a cidade.
Com a crise econômica mundial sendo amenizada, talvez o dinheiro do petróleo volte com força aos cofres das prefeituras nos próximos anos. Mas o atual momento deve servir como alerta e nos fazer abrir os olhos. Devemos pensar no futuro, planejar a economia sem contar com essa indenização temporária e discutir uma política séria e conjunta de geração de emprego e renda. Além do turismo, que depende invariavelmente da preservação do meio ambiente, o Porto do Forno, em Arraial do Cabo, e o Aeroporto Internacional de Cabo Frio despontam como as principais alavancas do desenvolvimento regional. Sem esquecer de outro pilar importante, a construção de uma universidade pública regional, que deveria servir não apenas para profissionalizar a mão de obra, mas, principalmente, para fomentar o pensamento crítico dos universitários e a realizar as pesquisas científicas que nossa posição geográfica tanto favorecem. As discussões, por enquanto, são rasas, pois o dinheiro do petróleo faz tudo parecer muito fácil de ser resolvido. Mas elas precisam se aprofundar para que a região continue a crescer na próxima década.
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Texto publicado no jornal Folha dos Lagos em 19/03
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