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Quarta-feira, 2h da manhã. Uma senhora de uns 60 anos, duas filhas e uma neta com menos de 10, dormem na porta da prefeitura de Cabo Frio. Um colchão, dois lençóis, uma garrafa d'água e uma marmita. Ao contrário do que parece à primeira vista, não se trata de uma família de desabrigados. Casa eles têm. Ou melhor, um barraco no Jardim Esperança, que se falta água, banheiro e cômodos suficientes para toda a família, o que dizer de comida, roupas, colchões...
"Ai, meu filho, vamo esperar aqui pra ver se a gente consegue falar com o dotô Trindade (Antônio Carlos Trindade, coordenador de Articulação Política da prefeitura de Cabo Frio). A gente tentou falar com ele mês passado, mas ele pediu pra voltar agora", disse-me a matriarca, em tom de lamúria.
A espera, como já virou costume, é para cobrar por empregos prometidos na época da campanha eleitoral.
"Trabalhamos para o prefeito na campanha e eles prometeram emprego pra gente. Mas agora tá difícil falar com eles".
Diariamente, dezenas de pessoas saem de bairros pobres da periferia cabofriense e fazem fila na porta da prefeitura. Alguns preferem ficar horas no portão dos fundos (é por lá que entram e saem o prefeito e seus assessores mais próximos), tentando falar com alguem que possa resolver seus problemas.
A política brasileira é cruel com as pessoas mais pobres. Em Cabo Frio, com a enxurrada de dinheiro dos royalties do petróleo, que em tese deveriam financiar investimentos em infraestrutura e meio ambiente (o que daria emprego e qualidade de vida para todos), o que se vê é a multiplicação de portarias e cargos fantasmas. Os governantes que estão no poder usam esses cargos para chantegear e trazer eleitores para o seu lado. Quando acaba a eleição, os pobres continuam pobres, só que agora dormindo na porta da prefeitura para mendigar um emprego. Os ricos, com portarias e vantagens, ficam cada vez mais ricos... com o nosso dinheiro. E aquela disposição para falar com o povo, ver a pobreza de perto, passar o dia no Tangará, Caminho de Búzios, Murubá, Favela do Lixo, Parque Eldorado, Jardim Esperança, Jacaré, Buraco do Boi e Maria Joaquina, entre tantos outros, volta daqui a quatro anos.
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